Veja fotos da avenida Rio Branco
A construção da avenida foi inspirada nos modelos de bulevares franceses e foi inaugurada com 33 m de largura e 1.800 m de extensão.
Inicialmente, a via ganhou o nome de avenida Central – só em 1912, ela recebeu o nome atual, em homenagem ao barão do Rio Branco, diplomata e ministro das Relações Exteriores.
A Rio Branco nasceu a partir da revolução arquitetônica pela qual passou a cidade no início do século passado, por determinação do governo federal, que era sediado no Rio.
O então presidente Rodrigues Alves determinou a remodelação da capital – na época a vida na cidade era basicamente concentrada na região central e parte da zona norte – para torná-la mais bonita e, principalmente, com mais saneamento.
Na época, a capital sofria com epidemias de várias doenças, entre elas, a febre amarela. A época ficou conhecida como a do “bota abaixo”, por causa das demolições ocorridas para abrir as vias, entre elas, a Rio Branco, com traçado mais largo.
Na avenida, se instalaram importantes instituições artísticas e culturais como o Theatro Municipal, na Cinelândia, a Biblioteca Nacional e o Museu de Belas Artes (antes Escola Nacional de Belas Artes).
De acordo com o livro Rio de Janeiro na época da Av. Central, lançado no centenário da avenida, a reforma urbana mudou os hábitos dos cariocas, principalmente em relação ao espaço público.
A publicação conta que, "enquanto boa parte da população pobre precisou refazer sua vida nos subúrbios e morros, onde efervescia a cultura popular, as elites, moldadas pelos costumes franceses, passaram a frequentar intensamente as ruas do centro da cidade.
Suas lojas de artigos importados, seus modernos restaurantes, seu glamour trariam a Europa ainda mais para dentro do país.
A avenida marcaria o início da Belle Époque carioca, período que se estenderia até a Exposição de 1922”.
Maria Inez Turazzi, historiadora e doutora em arquitetura e urbanismo pela USP (Universidade de São Paulo), que prestou consultoria para a publicação, explica que o projeto da avenida era exemplar, pois também previa qual o pavimento e calçamento seria usado.
Para a construção dos prédios, segundo ela, houve concurso de projetos para evitar edifícios de mau gosto.
Maria Inez destaca que o engenheiro Paulo de Frontin, responsável pela obra da avenida e depois prefeito do Rio, fez o calçamento da Rio Branco com pedras portuguesas, inspirado no calçamento de Lisboa.
Tempos depois, quando o engenheiro assumiu a administração do município, colocou o mesmo piso no calçadão da avenida Atlântica, em Copacabana, uma das imagens mais conhecidas do Rio.
- Com a avenida Central, nasceu um código de posturas na cidade.
Ela virou um cartão-postal.
É uma história rica.
A vida da cidade passou por ela.
Deveria ser cuidada com mais carinho.
Fechamento polêmico
Atualmente a Rio Branco continua a guardar sua importância, mas, além do aspecto cultural, sua relevância é grande devido à concentração de edifícios comerciais.
A via também é um dos principais corredores de ônibus e carros e tem duas estações do Metrô Rio – Cinelândia e Carioca.
Fechá-la alteraria a vida no centro da cidade.
Na ala dos que se declaram contra o fechamento da Rio Branco, está o superintendente do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico, Artístico e Nacional), Carlos Fernando Andrade.
Na opinião do responsável pelo órgão de proteção ao patrimônio no Rio – que também fica na avenida –, a medida prejudicaria muito o trânsito da região e o centro não precisa de mais um parque.
- Por que a Rio Branco?
Ela é moderna.
Já é um bulevar no sentido francês, com calçadas largas.
Fechar a Rio Branco não tem sentido nenhum.
O Rio já tem muitos parques.
Aqui perto mesmo têm dois: a praça Paris e o Parque do Flamengo.
Andrade teme que, se transformada em parque, a Rio Branco seja mais uma área de lazer subutilizada.
Ele citou como exemplos o Campo de Santana, na avenida Presidente Vargas, e o Passeio Público.
Para ele, a avenida poderia sofrer melhorias, mas o fechamento é muito “radical”.
- O trânsito na Rio Branco tem de ser melhorado.
As bancas de jornais, por exemplo, são obstáculos.
Se transformaram em verdadeiros apartamentos nas calçadas e outdoors também.
Já a historiadora aprova a ideia de testar um fechamento para a avenida.
- Louvo a iniciativa de que se queira testar, pensar na possibilidade de fazer novamente [da avenida] um cartão de visitas.
Quem passa pela Rio Branco diariamente também tem dúvidas sobre o projeto de fechamento.
Para Leandro Leal , funcionário de uma banca de jornais da avenida, a proposta não é boa.
- Vai ser ruim. porque vai diminuir bastante nosso movimento.
Atendemos mais ou menos mil pessoas por dia.
O mensageiro Marcelo Maycon Azevedo também disse acreditar que o fechamento vai prejudicar quem precisa frequentar a avenida.
- Vai atrapalhar quem trabalha na região. Trabalho em dois lugares aqui e para ir de um ponto para outro eu vou de ônibus.
Mas há quem acredite no projeto, como o ambulante Jorcelino Pereira Lopes, de 70 anos, que trabalha há 25 na região da Rio Branco.
- Só dá para saber depois de fechar.
Tem coisas que a gente pensa que dá errado e dá certo.
Quando o Getúlio [Vargas] queria fazer a [avenida] Presidente Vargas também acharam que ele estava maluco.
No entanto, ela está aí.
Tem que fazer para ver.